quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Tic. Tic. Tic, Tic. Tic. Tic. Tic. Tic. Tic. Tic. Tic. Tic. Tic.

-          R$ 38,76, senhor. À vista ou cartão?

-          À vista.

Trac trum tram. Trété Trété Trété Trété Trété Trété Trété Trété Trété.

- A notinha e o troco. Bom dia!

Sorri

- Bom dia.

 

Onomatopéica e desinteressante vida de caixa.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Radiografia do rádio


- Ela é legal, cara. Como vocês se conheceram?

- Bem, isso já tem 2 anos. Eu sou professor de educação infantil, sabe? Nessa época estava pegando a Alfa I, e a primavera se aproximava. Sempre na primavera, a escolinha organiza um festival, para os alunos se apresentarem para os pais. A alfa I ficou com o teatrinho. Íamos encenar a o crescimento das flores, e precisávamos de chuva.

- mmm

- Para fazer os efeitos sonoros, pedi que os alunos trouxessem panelas, arroz cru,

- panela e arroz cru?

- É, tipo, joga-se o arroz cru na panela, devagar, e dá um efeito de chuva caindo.

- entendo...

- enfim, que trouxessem arroz cru, panela e radiografias...

- para os relâmpagos/trovões e afins?

- Exato. E foi aí.

- Foi aí? Tipo, era a mãe de alguma aluna...?

- Não, aí que eu vi o rádio mais lindo do mundo.

- wfh?

- Rádio, aquele osso do antebraço. Ah, era tão lindo, tão esfumaçadamente branco no azul escuro da radiografia. Pense num rádio perfeito, era ele. Foi Paulinha, uma das alunas que tinha trazido.

- Então era da mãe dela?

- Não, da tia. Tinha fraturado numa queda. Sabão em pó, água e escada, você sabe. Daí ela esqueceu a radiografia lá, na casa da Paulinha, porque tinha ido direto do Horto para um jantar de família. Aniversário de Casamento dos pais da Paulinha. Ela tinha ido ver se já estava boa, depois de usar gesso por 4 meses. Bem, o rádio estava perfeitamente curado. E lindo.

- Puxa vida, cara, é uma história e tanto.

- É, não é? Estou pensando em escrever uma música a respeito. Um samba, ela adora samba.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Sequencial

Despertador, abro os olhos, levanto, banho, olhada no espelho, não-satisfação com a imagem vista. Escolho a roupa. Nossa, não há nada que preste nesse guarda roupa. Mentalizo compras, mentalizo falta de dinheiro para. Bom dia, gato. Café preto com pão dormido e queijo possivelmente fora da validade. A pilha de pratos cresce chinesamente. Não há mais copos limpos. Escovo dentes, ciao gato, saio de casa. Chove, molho a barra da calça e o sapato de lama. Mentalizo vinganças contra dias de chuva em que não estou em casa vendo um filme. Trabalho trabalho trabalho, horário de almoço, no lugar de sempre. A comida está sem gosto. Talvez seja o nariz entupido. 5 minutos para o fim do horário de almoço. Dou-me o prazer de um chocolate. Dou-me o prazer de mais 4 chocolates. Mentalizo calorias, mentalizo academia, mentalizo falta de dinheiro para a mensalidade da, mentalizo como eu sou um péssimo administrador do meu salário. Trabalho trabalho, saio mais cedo do trabalho. opa, médico agora. Oh não, exames de rotina não. Droga. Mentalizo potinhos plásticos, mentalizo tiração de sangue. Oh, não, sangue. Minha mente fica turva. Acordo. Oh, desmaiei. Ainda bem que já estava no médico. Vou pra casa. Oi, gato. Ah, não, gato! Você arranhou mais ainda a poltrona! Internet. Muitos emails novos, da Picula tour e do mercado livre. O mercado livre sempre encontra o que eu procuro, incrivelmente. Dor de cabeça. Remédio para dor de cabeça. Não passou. Okay, não é instantâneo. Vou tomar mais um para garantir. Ah meu deus, não era analgésico, era antiinflamatório! Ou seria remédio pra febre? Porque eu tirei todos da caixa? Mmm, sinto-me sonolento. Durmo na mesa da cozinha, não sonho com nada. Acordo muito bem, mas são 10:15. Céus, devia ter acordado 4h e 15min antes. Ah, foda-se.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Insuportável

Ele disse que o que não suporta em mim são os “enfins”.

Você fala enfim demais, ele diz.

Ora, eu gosto dos meus enfins. Eles são meus pequenos gatinhos. 

Ele me disse que não suportava gatos.

Ora, eu gosto tanto de gatos! São tão característicamente felinos.

Mas ele não os suportava, por isso nunca tivemos um. 

Ele também não suportava cactos. Nunca pude ter um cacto. 

Ele não suportava o modo como eu prendia o cabelo. Você está me enojando. Solte isso. Suas orelhas são feias, não as deixe a mostra, ele dizia. 

Mas que homem insuportável.

Colchão de Solteiro (ô péssimo)

Meu bem

Não compre uma cama de casal

é normal

não faz mal

dormir assim com você

 

Jogados no chão

Dividindo um colchão

De solteiro

No semi-alto do terceiro

andar

 

Triste história de Eduardo

Eduardo era um elefante que adquiriu elefantíase. Não era ele o único doente da família, sua mãe sofria de trombose (mas não na tromba, seriam trocadilhos com doenças demais numa só família), e sua irmã tinha problema nos ovários. 

A cura buscando, decidiu Eduardo procurar o Arbusto Sábio, que além de arbusto era também médico. Acontece que com a saúde debilitada, a locomoção para Eduardo se tornava algo realmente penoso. Pediu então que sua irmã procurasse e trouxesse o Arbusto Sábio até ele, e assim ela foi. 

Passaram-se dias e nada da irmã retornar com o Arbusto, tão pouco sem ele. Descobriram, por fim, que no meio do caminho tinha a irmã um rapaz encontrado, por ele se apaixonado, e com ele fugido, não sabe pra onde. 

Eduardo então pediu que seu simpático vizinho Zebra fosse o Arbusto buscar. 

Infelizmente não pôde Zebra concluir sua missão, pois fora atacado e comido por leões, restando apenas sua carcaça, que foi devorada pelas hienas, restando apenas os ossos, que foram roídos por cachorros do mato. 

Temendo que Eduardo caísse em depressão pela tristeza e pela culpa, seus amigos e familiares preferiram a ele não contar a respeito do triste fim do seu vizinho, e então lhe contaram que o Zebra havia fugido com o circo. 

Porém, ouvindo atrás da porta a conversa dos antílopes, Eduardo descobriu toda verdade. Ficou transtornado. Perguntou-se se o mesmo não tinham feito com a história da sua irmã. Que fim realmente teria tido ela? E por que desculpas tão cinematográficas?  Que obsessão por fugas! Com a tristeza em seu peito, a desconfiança nos amigos, a doença e a dúvida a lhe corroer, Eduardo sentiu em seu âmago o desgosto pela vida, e quis morrer. Intensificou-se sua vontade ao saber que tinha o Arbusto Sábio morrido graças a queimadas criminosas. Nem ao menos havia a chance de curar-se (se é que antes havia). Decidiu então matar-se. 

Não conseguiu se matar. Caçadores não o caçariam pois estava numa reserva. Não conseguia se deslocar até um penhasco e de lá se jogar. Fez uma fogueira, mas como acendê-la? Os leões não o queriam comer, nem os cachorros, nem as hienas. Ele nada sabia sobre plantas venenosas, e morrer de fome era demasiadamente doloroso. Decidiu então viver.