sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A velha que era cega mas não era surda.

Ela era velha, mas não era surda. Apenas enxergava mal. Quando alguém vinha lhe falar, pobre coitada, levava tanto tempo tentando focalizar a imagem, reconhecendo a fisionomia no borrão que enxergava, que acabava por não prestar atenção no que a pessoa lhe dizia. Percebendo sua displicência, dirigia-se ao orador com um interessado “Quêêêêê?”. Então julgavam-na surda, e repetiam a mensagem aos berros. Mas veja bem, ela não era surda! Apenas enxergava mal.

Ofertas.

- Você! seu cachorro... SEU CACHORRO! Traidor! Crápula! Desgraçado... Como, como assim? Arrumando as malas... vai embora é? Vai me deixar, é? Não vá não, por favor... Não vai não... Aliás, vá, vá, quem te quer, quem te quer? QUEM? Ahhh! Oh! AHHH! É por aquela vagabunda que você tá me deixando, né? É POR ELA, NÃO É? FALA NA MINHA CARA, FALA SE VOCÊ É HOMEM! FALA!!!!

- É.

- OH! AH! Ai meu coração! Seu descarado! Ainda fala na minha cara que éééé! Seu cara de pau, seu cachorro... Seu seu seu... FILHO DA PUTA! filho da puta... Como você tem coragem de me dizer? Agora me reponde porque, POR QUÊ? PORQUE CARLOS? O que, que ela tem, heim? O QUE ELA TEM QUE EU NÃO TENHO? Ela não tem NADA! Ela nem gosta de você, ela é uma puta, isso sim, mas é disso que você gosta, né? De ser corno! Seu corno! Pois é isso que ela vai fazer com você! Ai...
(...)
Oh meu Deus... Depois de tanto tempo... ELA SÓ QUER O SEU DINHEIRO! Depois de tanta dedicação... Eu que nunca olhei pra outro homem que não fosse você, que te amo de verdade... na saúde e na doença... que te agüento... Só eu que sei de todas as suas manias, Carlos! Só eu que te conheço bem! Que me preocupo com sua felicidade, com o que você pensa... O quê que falta em nosso relacionamento, heim, me diz, o que? O que ela pode te oferecer, aquela... Ela nem liga pra você! Ela quer mais que você se exploda! Ela tá dando a bunda pra o que você faz! Ela não gosta de você, ela tá dando a bunda pra você!

- Sabe, na realidade, é exatamente isso.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Domir.

Quando deito, quando tudo a minha volta é escuro, o conforto, minha pele em contato com o edredom, com os travesseiros, com o jacaré de pelúcia, meu peso comprimindo o colchão e meus seios; Quando tenho consciência de muitas coisas, de toda a extensão do meu corpo, de alguma parte que dói, de um brinco que me fura, do ar-condicionado ressecando minha garganta ou da brisa do ventilador de teto me tocando, de que apenas eu e a gata estamos ligadas ao mundo pelo consciente, pois é tarde e os outros dormem; De ser tão humana.

Eu sinto um enorme prazer nisso tudo.

Mas isso quando estou só.

Porque nada, nada pode ser mais prazeroso do que dormir sentindo cheiro de pele, de cabelo, de enxergar no escuro, e, principalmente, de saber, de ter certezas.

É um desperdício dormir.


segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Nada


Eu só achei muito bom. É que a fotografia é bonita, e a putaria é pura.

PS: Pura de pureza, não de puramente.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Sexo. mmm.


Sexo.

Eu particularmente acho sexo uma palavra muito bonita e interessante. Entra no meu top 10 de palavras legais e prazerosas de se falar (junto com tigela, caralho, Thor, minúscula, cutícula, etc). Mas enfim.
O fato é o seguinte, as pessoas se interessam loucamente por esse assunto. Por exemplo, algum leitor de algum blog que tem o meu blog relacionado a ele, e que nunca se interessou em clicar em “vaso de planta – felicidade e infelicidade”, ao ver “vaso de planta – sexo” clicará imediatamente para ver do que se trata. Qualquer conversa ruma para esse lado. É quase inevitável. As brincadeirinhas mais engraçadinhas tratam de sexo. Putaria hahaha. Bem como as piadas. O duplo sentido impera na sociedade contemporânea atual. E Lá ELE!
E, ao mesmo tempo em que é um assunto tão comum, é polêmico, entabuzado. Penso em como isso aconteceu. Quer dizer, os primeiros homens (segundo a história, a ciência, todos eles com muitos argumentos e poucos fatos, quem são eles para afirmar com tanto detalhes a curiosa sociedade primordial, quando não há registros?) deviam encarar isso com muita naturalidade. Quer dizer, eles eram animais (ainda somos, mas enfim me refiro à rotina e tudo mais), queriam se alimentar, se divertir um pouquinho, dormir, e se reproduzir. Copulavam como animais. Não ligavam para virgindade, lua de mel, sensualidade, porque os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor, ménage a trois, quem era puta e quem era o comedor, desonra, orgasmos múltiplos, eu-te-amos e sex tape.

Europa, África e América (só uma observação curiosa, o Word corrigiu automaticamente Europa e América pois digitei com letra minúscula, mas não corrigiu África. Olha a bad no Microsoft Office!), são os único que eu tenho embasamento para falar. Não faço idéia da história da sexualidade no Nepal ou na nova Zelândia. Também não posso afirmar nada a respeito dos índios norte americanos e do leste europeu. Mas uma visão geral sobre várias sociedades desses continentes mostram a adoção do sexo como algo ritualístico, presente, comum, não havia uma cultura do sexo como errado e impuro.

Então, como foi que surgiu toda essa cultura de castidade, pecado e tudo mais? Quem apagou as fogueiras de Beltane, quem acabou com os ritos de fertilidade, quem disse aos índios que o putetê deles era errado, que o corpo é uma vergonha, que a mulher tem que sofrer e pagar porque Eva era uma vadia appleaholic, que sexo é algo impuro?

A culpa, é claro, recai sobre as religiões ocidentais (Que tem uma origem comum, que se espalharam pelo mundo cobrindo tudo com seu véu. Cristianismo, Judaísmo, Hinduísmo, Budismo, etc). Vejam bem, pseudohistoriadores procuradores de furos de plantão, não disse que em todas as sociedades a gaia era generalizada e as neoreligiões acabaram com tudo... estou me referindo a pedaços (grandes, mas não todos) da sociedade mundial. Por exemplo,a sociedade mediterrânea, apesar de ter Baco/Dionísio e suas orgias, as mulheres que participavam delas não eram bem vistas, e a sociedade começou a fechar o cerco em torno da donzelice bem antes de adotarem o cristianismo. Eu só me pergunto POR QUE.

Tipo, homens das cavernas -> homens e suas leis sexuais.

Por quê? Não estou revoltada com a visão atual (talvez esteja um pouco, por alguns motivos, mas não, não estou pregando a legalização da festa do cabide, ou buscando convites para festinhas e swings), só sou curiosa e queria saber como esse pensamento se formou e se espalhou. Voltando às religiões, realmente não acredito que Deus tenha inspirado ninguém a escrever suas leis, mas pros caras que as inventaram, porque colocaram isso no meio?

Enfim. O sexo não seria tão interessante, não daria tanto pano pra manga se fosse algo tão aberto e escancarado. Assim como a nudez. Falando nela, já viu que coisa, se por acaso minha blusa “cair’ e eu tiver de biquíni, não terá nada demais. Se eu estiver de sutiã, vai ser tipo “óóóó”, sendo que sutiãs geralmente são mais pudorísticos do que biquínis. Vai entender.

- Sem final conclusivo de novo.

domingo, 9 de agosto de 2009

Felicidade e infelicidade

Então, eu estava pensando sobre felicidade e infelicidade. Seria melhor passar a primeira metade da vida feliz e a segunda infeliz, ou passar a primeira metade infeliz e a segunda feliz (se não houvesse a opção felicidade nas duas metades)?
Bem, sendo infeliz primeiro é sempre melhor, porque ai você fecha a vida com chave de... erh, ouro (eu não gosto dessa expressão). Tipo, é como comer primeiro a salada depois o resto da comida (pra quem não gosta. Eu particularmente gosto de salada), ou comer um chocolate depois de ter tomado uma colherada de óleo de tubarão. Se você é feliz e depois infeliz, vai ser mais infeliz do que quem foi infeliz primeiro, porque conheceu a felicidade, a tinha, e vai sofrer muito mais porque tem com o que comparar, e estava acostumado a ela. Da mesma forma, a felicidade de quem foi primeiro infeliz é muito mais feliz. Pelo menos, é o que eu acho. Na ordem, eu preferiria tomar primeiro o óleo de tubarão, depois comer o chocolate (notaram meu trauma com óleo de tubarão, né?).
Acontece que, se alguém foi infeliz em toda sua metade da vida, infância, adolescência, adultência, enquanto sua personalidade estava se formando, provavelmente vai ser uma pessoa amargurada e traumatizada pelo resto da vida, prejudicando dessa forma sua felicidade futura. Ela pode desenvolver várias patologias psicológicas, como culpa por finalmente ser feliz, não saber aproveitar a felicidade, etc etc. Enfim, o ser humano é muito mais complexo do que óleo de tubarão e chocolate, ou saladas.